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Joaquim Sande Silva
é licenciado em Engenharia Florestal pelo Instituto Superior de
Agronomia, Mestre em Ambiente e Recursos Naturais pelo Mediterranean
Agronomic Institute of Chania (Grécia) e Doutorado em Engenharia
Florestal pelo Instituto Superior de Agronomia. Foi responsável pelo
sector florestal da Companhia das Lezírias-SA entre 1988 e 1991. A
partir de 1991 passou a exercer funções como docente no Departamento
Florestal da Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra onde tem
actualmente a categoria de Professor Coordenador. Nesta escola tem
leccionado várias disciplinas sobretudo na área dos incêndios florestais
e actualmente o coordenador do Mestrado em Recursos Florestais. Integra
desde 2004 a equipa de investigação do Centro de Ecologia Aplicada
“Prof. Baeta Neves” onde tem desenvolvido trabalhos de investigação na
área da ecologia do fogo e na área dos processos de invasão por plantas
lenhosas. Foi coordenador de dois projectos de investigação financiados
pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, o último dos quais abordando
a questão da naturalização do eucalipto em Portugal. Desenvolveu vários
trabalhos de voluntariado na Liga para a Protecção da Natureza (LPN)
onde foi vogal da Direcção. Coordenou através da LPN a produção da série
de nove volumes Árvores e Florestas de Portugal. É autor de mais de 100
publicações de carácter científico, técnico e de divulgação incluindo 22
artigos científicos em revistas internacionais, oito capítulos em livros
de circulação internacional e a edição de cinco livros e uma colectânea.
Educação ambiental e florestas:
dois exemplos na área de actuação da LPN
Nesta apresentação é feita uma abordagem à importância da educação
ambiental na área das florestas. Para além das palavras bem
intencionadas dos políticos no dia mundial das florestas e durante a
época de incêndios (momentos marcantes da intervenção política nesta
área, ao longo do ano), há que desmistificar a importância que as
florestas têm na sociedade portuguesa e consequentemente nas acções
políticas que são levadas a cabo a este respeito. Nada como fazer
comparações internacionais para se constatar que não existe em Portugal
uma verdadeira estima pelo património florestal natural. Basta por
exemplo confrontar as estatísticas sobre a área de floresta pública,
sobre a proporção de floresta queimada anualmente ou sobre a percentagem
de floresta exótica. Perante estes factos vale a pena reflectir sobre a
necessidade de uma educação ambiental para as florestas na sociedade
portuguesa e sobre as formas de prosseguir essa educação e essa
sensibilização.
Uma das formas consiste na publicação de obras de divulgação acessíveis
ao grande público, como foi o caso da série de nove volumes Árvores e
Florestas de Portugal produzida pela Liga para a Protecção da Natureza
para a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e pelo Jornal
Público em 2007. Tratou-se de uma iniciativa absolutamente inédita em
que uma fundação um jornal diário de grande tiragem e uma ONG do
ambiente se juntaram para produzir a maior colectânea de textos jamais
reunida sobre as florestas portuguesas. A iniciativa foi ainda inédita
pelo facto de se ter tratado de um serviço prestado de forma gratuita
pelos mais de cem autores envolvidos, o que permitiu a venda da série de
livros a um preço muito acessível para o grande público. Todo o projecto
foi desenvolvido durante o período aproximado de um ano, tendo os livros
sido distribuídos ao longo de nove semanas com a edição do Jornal
Público. Este é um excelente exemplo do papel insubstituível das ONG's
do ambiente na área da educação ambiental na medida em que o projecto
nunca teria sido possível através de uma empresa privada, pelos custos
elevados que iria comportar, nem através do Estado pelo tempo que
demoraria a concretizar.
Um outro exemplo deste papel insubstituível das ONG é a criação de uma
pequena reserva de floresta nativa na região Centro numa propriedade da
LPN, a Quinta da Moenda. Esta propriedade tem aproximadamente 3 ha e
localiza-se no concelho de Vila Nova de Poiares. Trata-se de uma pequena
propriedade com um historial agrícola semelhante ao de outras quintas da
região. Com o abandono da agricultura e com o desinteresse por parte da
proprietária, não sendo esta a sua residência, a Quinta da Moenda passou
por um processo de sucessão ecológica semelhante a outras terras
abandonadas, com o aparecimento de vegetação arbustiva e arbórea de
espécies nativas da região. Através de um trabalho persistente de um
actual colaborador da LPN, foi possível acelerar a sucessão ecológica
através do favorecimento da vegetação arbórea nativa e da supressão da
vegetação arbustiva e da vegetação exótica. Através deste trabalho de
paciência e persistência foi possível em pouco mais de uma década
constituir um bosque de carvalhos e outras espécies folhosas nativas que
se constitui como uma "ilha", num região dominada pela agricultura pelo
eucalipto e pelas acácias. O papel de educação ambiental desta pequena
"ilha" tem sido notável, pela quantidade de visitas de turmas de vários
níveis de ensino que tem recebido. A Quinta tem sido igualmente o palco
de iniciativas de educação ambiental promovidas por empresas que
pretendem dessa forma proporcionar um ambiente de convívio aos seus
colaboradores num ambiente de voluntariado em prol da natureza. A câmara
municipal de Vila Nova de Poiares também tem vindo a dinamizar
iniciativas a este nível.
Em conclusão, existe muito trabalho a fazer em matéria de educação
ambiental para as florestas em Portugal, tendo em conta a matriz
cultural do nosso país, com uma fraca tradição florestal. As ONG do
ambiente são as entidades de eleição para dinamizar processos de
sensibilização nesta área, dado conciliarem uma grande flexibilidade na
mobilização de recursos (basta que existam) com a vocação de prestação
serviços à sociedade, sem objectivos lucrativos. Seria assim importante
uma maior sensibilização e um maior reconhecimento por parte do Estado
para a importância das ONG nesta área.
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